Estudo realiza testes em camundongos com cardiopatia isquêmica induzida


16/04/2013 – A estruturação de uma base científica multidisciplinar avança a passos largos no Amazonas. Há dez anos, com a implantação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), o cenário da Ciência e Tecnologia e Inovação Tecnológica se tornou francamente promissor, resultado direto dos diversos mecanismos de subvenção financeira dispobilizados pela instituição. O setor de pesquisas voltado para a Saúde foi um dos principais beneficiados com essas subvenções, mormente dependente de volumes expressivos de investimentos e com resultados sempre em longo prazo, o que requer determinação e ousadia política por parte do Governo do Estado, mantenedor da instituição de apoio à pesquisa amazonense.  

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Neste sentido, a doutora em Imunologia Básica e Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP) Adriana Malheiro é uma das beneficiadas pelo principal instrumento de fomento da área de saúde no Amazonas, o Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde  (PPSUS), financiado pela FAPEAM desde 2009. Seu projeto, intitulado ‘Estudo pré-clínico de implante de células-tronco hematopoiéticas em camundongos com cardiopatia isquêmica induzida tratados com fator de crescimento celular’, foi aprovado pelo Edital PPSUS 007/2009, na linha temática de estudos clínicos e pré-clínicos com terapia celular em cardiopatias. O valor do projeto é de R$ 130 mil, envolvendo cinco alunos de graduação, três de mestrado acadêmico e um de doutorado. "O apoio institucional da FAPEAM foi fundamental para a execução do projeto de pesquisa e, também, para a montagem de um laboratório experimental", analisou a pesquisadora.

A pesquisa coordenada por Adriana Malheiro objetivou testar o implante de células-tronco na miocardiopatia induzida em camundongos, através da obstrução da artéria coronária esquerda, e analisar o papel das citocinas no processo inflamatório no tecido cardíaco, após estimulação com Fator de Crescimento Celular (GM-CSF). Células-tronco são células não especializadas, que podem se replicar, gerando outras células-tronco, ou mesmo se diferenciar em diversos tipos celulares, como as células nervosas, por exemplo.

O estudo está vinculado à atuação profissional da pesquisadora Adriana Malheiro, tanto na Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), onde trabalha com resposta imune das doenças tropicais e infecciosas, quanto na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde atua como professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Imunologia Básica e Aplicada. No aspecto prático, a pesquisadora destaca que seu projeto resultou na criação de um laboratório para modelo experimental e a criação de um grupo promissor em terapia celular no Amazonas, além  de iniciar os trabalhos para a criação de uma revista nacional na área de Saúde.

Resultado da pesquisa

O estudo sobre as células-tronco foi apresentado no dia 10 de abril, durante o Seminário de Avaliação Final do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS – Edital de 2009), realizado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-AM) e FAPEAM. A pesquisa com as células-tronco  contou com a colaboração dos pesquisadores Paulo Brofman, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP); Antônio Carlos Campos e Júlio Voltarelli, da Universidade de São Paulo (USP); Maria Cláudia Irigoni, do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo; e Nance Nardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRG). 

Segundo a pesquisadora Adriana Malheiros, a relevância da pesquisa sobre células-tronco, realizada com o apoio da FAPEAM, se deve ao fato que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o infarto agudo do miocárdio é considerado a doença mais importante no países desenvolvidos, que ocasiona milhões de mortes todos os anos. No Brasil, anualmente são registrados cerca de 2 milhões de novos pacientes, sendo que, no mundo todo, surgem cerca de 240 milhões de novos casos.

A pesquisa envolveu o estudo pré-clínico de implante de células-tronco hematopoiéticas em camundongos com cardiopatia isquêmica induzida e tratados com granuloquina e Fator de Crescimento Celular (G-CSF). O estudo também buscou medir a influência do G-CSF na mobilização de células-tronco mesenquimais e hematopoiética e na produção de citocinas em cultura primária. Foram avaliados os efeitos centrais e periféricos da implantação de células-tronco hematopoiéticas, associados ao uso do fator estimulador de colônia de granulócitos na insuficiência cardíaca experimental.

A hipótese variável do estudo experimental previa que os camundongos que recebessem o implante de células-tronco tivessem um melhor desempenho analisado frente ao ecocardiograma e tivessem regeneração tecidual observada pela histologia. Um dos objetivos da pesquisa foi avaliar os efeitos das células-tronco autólogas, obtidas da medula óssea e implantadas por meio de esternotomia mediana em camundongos com cardiopatia isquêmica induzida, e tratados com G-CSF. Outros objetivos foram avaliar a fração de ejeção e perímetro do infarto do miocárdio utilizando exames eletrocardiográficos e ecocardiográficos; avaliar a produção das citocinas no soro e tecido cardíaco 30 dias após o implante das células-tronco; e avaliar os efeitos do tratamento com G-CSF sob o remodelamento tecidual através de cortes histológicos.

As amostras envolveram camundongos isogênicos fêmeas Balb/c, fornecidos pelo Biotério da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que foram mantidos em estantes biológicas com temperatura, umidade e controle de luz adequados. Durante a pesquisa, foram respeitados os princípios de cuidados com animais de laboratório, obedecendo-se ao que direciona a Lei 6663/RFB. O infarto induzido nos camundongos foi resultado de teste de esforço físico, a que os animais foram submetidos até a exaustão.

A área do infarto foi estimada pela determinação do perímetro interno da região infartada e o perímetro total do coração. Após os animais serem sacrificados com superdosagem de anestésico, eles foram submetidos a uma avaliação macroscópia do coração. Após a avaliação ecocardiográfica, foram coletados coração, fígado, diafragma e músculo esquelético isquiotibial, que foram posteriormente dissecados, pesados e armazenados.

Os teste laboratoriais foram realizados em colaboração com os pesquisadores José Fernando Marques e Luciana Fujimoto, da Ufam. O objetivo foi analisar o modelo experimental de infarto do miocárdio pela ligadura da artéria coronária esquerda. Durante a análise anatopatológica, constatou-se que o processo de remodelamento cardíaco pós-infarto é caracterizado por apoptose dos miócitos, deposição de tecido fibrótico com substituição dos cardiomiócitos na parede ventricular, expansão progressiva da área inicial infartada e dilatação ventricular esquerda.

A pesquisadora Adriana Malheiro revela que apesar dos cuidados referentes à mobilização da cobaia durante o procedimento cirúrgico, o próprio modelo experimental é extremamente invasivo para o animal. Mesmo sem a obstrução da artéria, o animal sofre um elevado processo inflamatório e produção de fibrose na tentativa de reparo tecidual. No entanto, os resultados obtidos na avaliação ecocardiográfica demonstraram a eficiência da cirurgia de indução do infarto, permitindo à pesquisadora concluir que a ligadura da artéria coronária é um bom modelo experimental. Foi observado um efeito benéfico de diminuição da área de infarto de todos os grupos de camundongos tratados.

Conclusões finais

Segundo a pesquisadora Adriana Malheiro, os tratamentos propostos na pesquisa, G-CSF e G-CSF associado à célula-tronco, foram capazes de reduzir o perímetro de infarto após 30 dias da cirurgia experimental. A pesquisadora observa que o infarto do miocárdio induzido pela ligadura da artéria coronária esquerda, após 30 dias, induz à manutenção da resposta inflamatória na musculatura esquelética. Outra observação importante é que o tratamento com G-CSF reduziu a frequência de animais altos produtores das citocinas IL-4 e  IL-6, o que foi revertido pelo uso de G-CSF associado à célula-tronco.

Sobre o PPSUS

Desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde e CNPq, o Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS) consiste em apoiar, com recursos financeiros, projetos de pesquisa que visem à promoção do desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação na área de saúde no Estado do Amazonas.

Fonte: Denison Silvan

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