A velocidade da tecnologia nos tempos modernos
05/04/2011 – Li semana passada numa dessas tripinhas de jornal. O mais recente brinquedinho do senhor Steve Jobs colocado na praça tem despertado paixões e suspiros em muitos jovens e marmanjos. Incluo-me entre estes últimos. Refiro-me ao iPad. Chega à segunda geração em pouco mais de um ano. Pesquisa revela que a coisinha transformou-se no objeto do desejo de não menos que 57% dos brasileiros. Não é pouca coisa. Impressiona-me a extraordinária capacidade e rapidez de inovação dessas criaturas e suas maquininhas maravilhosas. Impressiona-me mais ainda o fato de não darem sossego à nossa incontrolável compulsividade para o novo. Mal dei conta de descobrir algumas das centenas de possibilidades da primeira versão do impertinente brinquedinho e já anunciam um novo modelo recheado de novidades. Assim não é possível! Em tempos que não vão longe, as coisas não aconteciam com tal celeridade. Tínhamos longo tempo de convivência e familiarização com os nossos objetos de desejo. Perdíamos de vista qualquer perspectiva de que algo novo viesse a acontecer. Cultivávamos uma sensação de perenidade. Foi assim quando consegui, depois de muito tempo, organizar a minha discoteca. Dedicava um cuidado extremado aos meus discos de vinil, hoje ironicamente apelidados de bolachões. Acomodava-os na vertical e, com regularidade, prestava-lhes a necessária assistência. Com uma flanela levemente umedecida pelo velho e bom óleo de peroba, removia de cada uma das superfícies quaisquer sinais de poeira, evitando, assim, que fossem arranhados durante a execução. A maior revolução tecnológica na época, no auge dos importados da Zona Franca de Manaus, era a vitrola Nivico, de canelinhas finas, som estéreo. Tinha o condão de permitir com que se ouvissem até cinco discos! O lado A e depois o lado B, é claro. Em dado momento, o braço que fixava a fina agulha levantava-se bruscamente, estrebuchava por alguns segundos e pousava suavemente sobre o disco que acabara de cair sobre o prato. Maravilha! Pura maravilha! Muito tempo depois, perambulando pelo velho centro da cidade, entrei em uma importadora chamada Oriente e me deparei com a grande sensação do momento: um aparelho de fina sofisticação dava cabo de demonstrar, sem ruído algum, o funcionamento de um CD. A música encheu-me os ouvidos e, sem esforço, fui identificando os principais instrumentos que dialogavam entre si. Fiquei encantado com a novidade. Apesar do preço salgado, a compulsividade foi maior que eu. Comprei, portanto, o CD. Tenho até hoje essa joia rara. Só depois de uns três ou quatro meses reuni capital para adquirir o aparelho que me permitiria entrar, de fato, naquela nova era. Enfim, entre o início de minha coleção de vinil e o CD demorou uma eternidade. Hoje saímos da loja já sabedores de que a tecnologia que acabamos de comprar está vencida. Coisa maluca. Eu, hein!
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