Pesquisa busca constatar existência de hantavírus em Itacoatiara/AM
Imagine a situação em que, após se sentir mal, uma pessoa com 25 anos de idade, apresenta febre, calafrios, dor de cabeça, dores musculares e fraqueza. Após apresentar pressão baixa, dificuldade respiratória e intensificação das dores é internada no hospital, vai para a Unidade de Terapia Intensiva e em 13 dias após o início dos sintomas morre sem que o médicos consigam identificar com exatidão a causa do óbito.
Essa história triste e assustadora aconteceu com o ex-jogador de futebol, Wagner Barbosa Vasconcelos, que morreu em Manaus em 2007. Na época, em nota técnica, a Fundação de Vigilância Sanitária (FVS) explicou que o quadro clínico do paciente apontou para a suspeita de dengue, leptospirose, malária, mas finalmente descobriu-se que a morte foi causada por hantavirose.
Para evitar que a história se repita, um grupo de pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical do Estado do Amazonas (FMT-AM) está desenvolvendo uma pesquisa para confirmar a existência do hantavírus, no município de Itacoatiara (distante a 270 km de Manaus).
O hantavírus, que é uma espécie de vírus encontrado em ratos silvestres, é o vetor da hantavirose, considerada uma doença emergente que preocupa as autoridades de saúde e que precisa ser estudada de forma mais abrangente.
De acordo com o farmacêutico-bioquímico e participante do projeto, João Bosco Gimaque, os procedimentos de análises realizados pelo projeto vão desde um exame laboratorial simples até a dissecação do animal para o estudo. “O índice de mortalidade para quem adquire o hantavírus é de 50%. Por isso a necessidade e importância da pesquisa”, afirmou.
Segundo o pesquisador, a doença atraiu o interesse do grupo de pesquisa no Estado por ser pouco conhecida, e pelo fato de que o Amazonas apresenta hoje cerca de 3,5% dos casos existentes no país.
Apoio
A pesquisa tem o apoio do Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (PIPT) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) desde 2009. “Com o auxílio de R$ 22 mil, a FAPEAM se tornou uma grande parceira no financiamento do estudo”, ressaltou Gimaque.
Desde quando o projeto teve início, já foram coletadas 842 amostras sanguíneas de ratos silvestres, entre coletas urbanas e rurais, que ficam congeladas em nitrogênio líquido a 186 graus negativos. O objetivo é estudar a existência ou não do vírus nessa espécie de roedor. Ao todo, o projeto prevê a coleta de total de 1.040 amostras.
O município de Itacoatiara foi escolhido devido já ter ocorrido o registro de duas mortes ocasionadas comprovadamente por hantavirose. Gimaque afirmou que ainda não há um tratamento adequado para quem adquire a doença. “Isto exige um conhecimento maior sobre a ocorrência de possíveis transmissores, uma vez que os sintomas são, geralmente, febre acima de 38 graus, dores musculares e dificuldade de respirar”, complementou.
Contaminação
O pesquisador alerta ainda que a hantavirose é transmitida somente por ratos silvestres, ou seja, nenhum outro animal ou ratos domésticos como catitas. A doença é adquirida quando a pessoa aspira poeira com restos de fezes, urina ou saliva de ratos contaminados e não há contágio entre seres humanos.
As pessoas que correm o maior risco de contrair o hantavírus são os moradores das áreas rurais, agricultores, ou pessoas que acampam ou frequentam matas.
Gimaque explicou ainda que a pessoa deve tomar cuidados ao entrar em ambientes fechados localizados em áreas rurais devendo abrir portas e janelas esperar um tempo antes de fazer limpeza para não inalar poeira. “Utilizar água sanitária, luvas e máscaras para não inalar o vírus é essencial. Devemos lembrar que, esta não é uma doença como malária ou dengue, pois o animal transmissor se encontra nas matas e zonas rurais. Todavia, requer pesquisas e observações contínuas”, explicou.
Sobre o Pipt da FAPEAM
Consiste em apoiar com auxílio pesquisa e bolsas, mestres e doutores vinculados a instituições públicas ou privadas sem fins lucrativos, que estejam interessados em realizar pesquisas científicas e tecnológicas no Estado do Amazonas.
Carlos Fábio Guimarães – Agência Fapeam
Foto1 – Coleta de amostra em rato silvestre (Foto: Divulgação FMT-AM)
Foto2 – Sangues de roedores são congelados (Foto: Ricardo Oliveira)