Cientistas se unem contra veneno usado em embalagens e brinquedos
Alguns dos principais cientistas do mundo fizeram ontem um apelo para que o governo britânico proíba o uso do bisfenol A (BPA), uma substância química ligada a casos de câncer, hiperatividade, doenças do coração e obesidade.
Em um documento distribuído à imprensa, eles pedem que o bisfenol A – presente em latas de refrigerante, embalagens plásticas de alimentos e até mesmo em brinquedos – seja banido, já que há diversas evidências contrárias ao seu uso. O apelo coincide com a publicação de quatro novos estudos científicos, que apontam para os riscos do contato com essa substância para a saúde humana.
Autoridades locais são acusadas de negligência
Semana passada, a Dinamarca se tornou o primeiro país da Europa a banir o BPA de embalagens de alimentos infantis. O Canadá e três estados americanos também já adotaram essa medida, enquanto a França estuda seguir o mesmo caminho.
Em contraste, o Reino Unido e boa parte das nações europeias, assim como o Brasil, têm resistido a banir o produto, baseando-se em um pequeno número de estudos, muitos dos quais financiados pela indústria dos plásticos, que classificam o uso da substância como seguro.
Mas o grupo de cientistas que fez o apelo – entre os quais, toxicologistas e especialistas em câncer, que há anos estudam o BPA – afirma que as autoridades britânicas estão deixando de proteger a saúde do público e deveriam convencer a indústria a buscar alternativas.
"Acreditamos que, em nome da saúde pública é prudente e recomendável que os produtos infantis que usem BPA, como embalagens de alimentos, fossem retirados do mercado e substituídos por outros menos perigosos", afirmam os cientistas no documento.
O BPA já foi classificado como um disruptor hormonal e se acredita que ele possa interferir com esse delicado sistema do corpo.
Nos Estados Unidos, depois de anos garantindo que o BPA não significava risco para a saúde, a Administração de Remédios e Alimentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) mudou de opinião em janeiro e aconselhou que "medidas razoáveis" sejam tomadas para minimizar o contato com a substância.
Prejuízo para a saúde, mesmo em pequenas doses
Enquanto isso, novos estudos independentes revelam que o BPA é nocivo em quantidades ainda menores do que se imaginava. Um deles, feito por pesquisadores da Universidade de Michigan, revela que o BPA é capaz de prejudicar o sistema reprodutivo e o metabolismo do homem. Outro, feito na Itália, mostrou ligações entre a substância e a endometriose, uma doença ginecológica crônica.
– São estudos significativos, que mostram como o BPA pode ser prejudicial à saúde humana, mesmo em pequenas doses – diz Andrew Watterson, pesquisador da Universidade de Stirling e um dos signatários do documento.
(Jerome Taylor, do Independent)
(O Globo, 8/4)
Fonte: Jornal da Ciência