Comunidade indígena em zona urbana busca manter origens
31/08/2012 – O processo de migração de algumas comunidades indígenas para a cidade permanece sendo uma luta contínua. Para um indígena viver na cidade não é tarefa fácil, pois requer adaptações aos ‘modelos’ de convivência do espaço urbano, o qual ele tem resistido com pouco êxito. Apesar destas dificuldades, uma comunidade indígena, fixada dentro ambiente urbano de Manaus, busca manter suas origens preservando as práticas corporais, os ritos e as movimentações culturais.
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Na tentativa de compreender as relações das práticas corporais com os eventos organizados pelos membros da aldeia, o pedagogo Marcos Afonso Dutra realizou uma pesquisa na comunidade Sateré-Mawé, localizada no Bairro da Paz, zona centro-oeste da capital amazonense, revelando inúmeras singularidades no ambiente onde a comunidade está inserida.
Intitulada ‘Da migração à sobrevivência: os indígenas Sateré-Mawé no espaço urbano de Manaus’, a pesquisa surgiu com objetivo de discutir as práticas corporais e manifestações culturais vivenciadas pelos indígenas no processo de transição de vida do seu habitat para o espaço urbano. O estudo foi realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e fomentado pelo Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RH-Posgrad), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Amazonas (FAPEAM).
Identidade
De acordo com Dutra, o estudo desmistificou o discurso de que o índio, ao migrar para a cidade, perde a sua identidade. “Abordamos a forma como esses indígenas, através do processo migratório, conseguiram a sobrevivência dessas práticas tão plenas de traços identitários, num espaço contrastante com o ambiente de origem, ou seja, o espaço nativo”, revelou.
No decorrer da pesquisa, o mestrando buscou compreender como as representações da identidade estão inseridas nessas práticas e nas referidas manifestações. “Migrar é uma coisa. Conservar a cultura dos povos tradicionais é outra coisa”, pontuou Dutra.
Uma das formas que os indígenas encontraram para sobreviver no espaço urbano foi a produção de peças artesanais para comercialização. “A venda das peças não consiste tão somente numa estratégia econômica necessária para a subsistência na cidade, mas se apresenta como elemento de manutenção de uma cultura material diferenciada que surge como um fator de resistência e organização política. Os trançados, as tramas e as sementes trabalhadas se apresentam como elementos diacríticos de identidade que os diferencia dos demais”, explicou Dutra.
Ele ressaltou que foi possível perceber que a formação da criança indígena na aldeia Sateré Mawé se dá por meio da transmissão da cultura e de práticas corporais que permanecem vivas no corpus da tribo, sedimentada em diferentes expressões.
Comunidade urbana
O grupo Sateré-Mawé, que significa ‘os filhos do guaraná’, está localizado na comunidade Y’APYREHYT, no Bairro da Paz, na cidade de Manaus, desde os anos 1980, quando migraram de suas tribos de origem. “Durante o trabalho de campo de caráter investigativo na comunidade foi estabelecido um diálogo com indígenas adultos e com as crianças, e dessa ação obtivemos relatos sobre o processo migratório desses indígenas para o espaço urbano, que então assume outra denominação, passam a ser chamados de índios urbanos”, afirmou o pesquisador.
Dutra explicou que os indígenas foram, aos poucos, encontrando formas de sobrevivência na cidade, pescavam e caçavam mesmo num espaço onde se fixavam. “A prática de se fazer plantação, de acordo com relatos, tornou-se quase inviável, as aves devoravam tudo o que era plantado impossibilitando o cultivo da plantação, por exemplo, da mandioca, planta-raiz tão comum nas aldeias para produção de farinha. Por outro lado, a ‘flora’ contribuiu timidamente, ao chegarem perceberam que no espaço havia grande quantidade de pés de açaí, tucumã, pupunha e abacaba, frutos nativos que serviam de alimentação”.
Na aldeia Sateré-Mawé, atualmente moram oito famílias, num total de 35 habitantes, o chefe do clã tem 65 anos.
Sobre o RH-Posgrad
O programa apoia com bolsas de estudo e auxílio-instalação, pesquisadores interessados em cursar mestrado ou doutorado em instituições de fora do Estado do Amazonas.
Rosilene Corrêa – Agência FAPEAM