Depressão destrói partes do cérebro, afirma estudo


Um estudo publicado na revista Molecular Psychiatry provou de uma vez por todas que a depressão recorrente encolhe o hipocampo – uma região do cérebro responsável pela formação de novas memórias – levando a uma perda da função emocional e comportamental.

O encolhimento do hipocampo tem sido associado à depressão, mas estudos anteriores não foram conclusivos. Amostras de pequenas dimensões, variando os tipos de níveis de depressão e de tratamento, assim como a variação nos métodos de recolha e interpretação dos resultados, em conjunto conduziram a resultados inconsistentes e muitas vezes conflitantes.

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Agora, através de uma análise global e transversal de imagens cerebrais de 9.000 pessoas, os cientistas foram capazes de conclusivamente associar os danos cerebrais à depressão. O encolhimento do hipocampo surge naqueles em que a depressão começa cedo (antes da idade de 21), assim como em pessoas que têm episódios recorrentes de depressão.

Os pesquisadores notaram que era essa persistência que produzia o dano. De facto, aqueles que têm apenas um episódio de depressão não têm um hipocampo menor, por isso o tamanho do hipocampo não é um fator predisponente, mas uma consequência do estado da doença. Isso coloca a ênfase na identificação precoce dos casos persistentes ou recorrentes mais graves.

É importante ressaltar que, em sistemas de identificação precoces, os cientistas devem dar atenção àqueles em que a depressão persiste ou é recorrente, porque eles são os únicos que vão ser mais prejudicados do ponto de vista do dano cérebro.

Os pesquisadores utilizaram dados de scans de ressonância magnética (MRI) do cérebro e dados clínicos de 1.728 pessoas com depressão major e 7.199 indivíduos saudáveis, combinando 15 conjuntos de dados da Europa, EUA e Austrália. As amostras foram obtidas a partir da base de dados de grupo Enigma – um consórcio internacional que investiga perturbações psiquiátricas.

Este estudo confirma – numa amostra muito grande – uma descoberta que tem sido relatado em algumas ocasiões. É interessante que nenhuma das outras áreas subcorticais do cérebro sofram um efeito tão nefasto de forma tão consistente. Por esse motivo, também se confirma que o hipocampo é particularmente vulnerável à depressão.

O hipocampo faz parte do sistema límbico do cérebro, ou do que é conhecido como o seu centro emocional. O sistema também contém a amídala, uma outra parte do cérebro que parece também ser afetada pela depressão, mas em menor escala. O hipocampo desempenha um papel importante na consolidação e formação de novas memórias.

Ainda assim, e apesar dos resultados do estudo serem importantes, eles não são susceptíveis de afetar imediatamente o tratamento clínico dos pacientes com depressão. Tal não acontecerá do dia para a noite, mas a investigação não deixa de ter implicações para o desenvolvimento de melhores tratamentos para a depressão.

Assim, os investigadores devem no futuro medir os volumes das regiões individuais dentro do hipocampo, que são responsáveis ​​por diferentes funções cognitivas. Ter uma melhor compreensão de como são as diferenças de volume regionais proporcionará uma maior capacidade para tirar conclusões que visem o tratamento.

Os cientistas esperam agora confirmar os danos do hipocampo na depressão através de estudos empíricos dirigidos precisamente a verificar esse facto. É importante notar, contudo, que os efeitos da depressão sobre o cérebro são reversíveis com o tratamento certo para o indivíduo, até porque o hipocampo é uma das áreas mais importantes de regeneração do cérebro, concluem os pesquisadores.

Fonte: Ciência online

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