Estudo investiga uso de substâncias isoladas da planta medicinal “quebra-pedra” no combate à doença de Chagas e a leishmaniose cutânea


Pesquisadores obtiveram o primeiro relato sobre a atividade antichagásica e leishmanicida de substâncias extraídas das folhas de uma planta conhecida popularmente como quebra-pedra. Testes (in vitro) demonstraram que as lignanas, classe de metabólitos secundários majoritários da espécie, apresentam ação antiprotozoária importante contra os parasitas causadores da doença de Chagas e da leishmaniose cutânea.

Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) um grupo de pesquisadores isolou e elucidou quimicamente 12 lignanas bioativas presentes nas folhas da quebra-pedra. Além disso, identificou diferentes substâncias pertencentes às classes de flavonóides, polifenóis, triterpenos e esteroides. Classes que apresentam propriedades antitumorais, antioxidantes e antiinflamatória já comprovadas em diferentes estudos científicos.

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Folhas de Phyllanthus amarus, conhecida popularmente como quebra-pedra.

Nos ensaios, as lignanas apresentaram atividade antiprotozoária promissora frente aos agentes etiológicos, Trypanosoma cruzi e Leishmania amazonensis responsáveis, respectivamente, pela doença de Chagas e leishmaniose cutânea. As substâncias demonstraram baixa citotoxicidade sobre as células hospedeiras, um achado importante, visto que um dos entraves enfrentados na quimioterapia das duas doenças se refere à alta toxicidade apresentada pelos medicamentos utilizados no tratamento preconizado dessas enfermidades.   

No estudo, os pesquisadores verificaram além da atividade antiprotozoária e a citotoxicidade das substâncias, o mecanismo pelo qual os compostos ativos agem sobre o L. amazonensis, sendo a diminuição do controle respiratório, sugerindo uma alteração no potencial de membrana mitocondrial desses parasitas e consequentemente uma menor produção de energia.

O projeto “Prospecção e identificação de compostos isolados de Phyllanthus amarus Schum and Thonn com potencial atividade leishmanicida”, foi realizado por um grupo de pesquisadores de Manaus (AM) e Campinas (SP) e, concluído em quatro anos e meio. O estudo foi desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP), por meio do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RH-Doutorado – Fluxo Contínuo), Nº 002/2015. O estudo tem artigo publicado na revista Planta Medica.  

Alternativa

Diferentes estudos científicos já comprovaram as propriedades farmacológicas da quebra-pedra. A planta é amplamente utilizada na medicina popular e, esta denominação está diretamente relacionada ao seu uso tradicional em combater pedras nos rins.

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Pesquisadora Dra. Gabrielly Conrado.

A pesquisadora do projeto e doutora em Ciências, na área de concentração em Fármacos, Medicamentos e Insumos para Saúde, Gabrielly Conrado, explica que produtos naturais e seus derivados são alvos de muitos estudos e podem oferecer protótipos de compostos capazes de combater diversas doenças. A quebra-pedra, por exemplo, é amplamente utilizada em diferentes lugares do mundo devido o seu potencial farmacológico e, pode também ser potencialmente ativa contra estes dois protozoários.  

A doença de Chagas e a leishmaniose atingem principalmente populações de baixa renda, em países tropicais subdesenvolvidos e, são responsáveis, anualmente, pela alta taxa de mortalidade por causa de complicações terapêuticas.

Considerando o cenário atual utilizado na terapia antichagásica e leishmanicida, a pesquisadora destaca que continua sendo de extrema importância a busca por medicamentos mais eficazes e mais seguros para a população. A investigação da atividade antiprotozoária das lignanas, presente na quebra-pedra, é pioneira e se fazem necessários estudos complementares destes metabólitos, considerados promissores candidatos para o desenvolvimento de novos agentes antiprotozoários. 

Doença de Chagas

É uma enfermidade infecto-parasitária, causada pelo protozoário T. cruzi, encontrado nas fezes de insetos conhecidos como barbeiros. A doença se manifesta em duas formas clínicas, uma fase aguda e uma fase crônica. Nas duas fases pode haver manifestação ou não de sintomas clínicos. Quando há manifestação na fase aguda os sintomas podem ser febre, miocardites, mialgia (dor muscular), e na fase crônica problemas cardíacos e digestivos são os mais frequentes. 

Leishmaniose cutânea

É uma doença infecciosa não contagiosa causada pelo protozoário leishmania que é transmitido ao homem e aos animais silvestres pela picada do mosquito-palha infectado. O parasita é controlado pelo sistema imunológico do hospedeiro. Indivíduos que não possuem uma resposta imunológica eficaz contra leishmania desenvolvem úlceras na pele e nas mucosas das vias aéreas superiores. Há duas formas de leishmaniose: a cutânea e a visceral. 

RH-Doutorado

O Programa RH-Doutorado Mestrado foi substituído pelo Programa de Bolsas de Pós-Graduação em Instituições fora do Estado do Amazonas (PROPG-Capes/Fapeam), que concede bolsas de mestrado e doutorado a profissionais interessados em realizar curso de pós-graduação stricto sensu, em cursos recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em outros Estados da Federação.

Por: Helen de Melo

Fotos: Acervo da pesquisadora Gabrielly Conrado

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