Pesquisa analisa gestão de inovação em universidades
Análise faz parte da tese de doutorado da pesquisadora Patrícia Toledo, do Instituto de Geociências
A Lei de Inovação, nº 10.973, de dezembro de 2004, modificada pelo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação publicado em janeiro deste ano (Lei nº 13.243), determina que todas as universidades públicas brasileiras tenham um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), o que vem representando um grande desafio para a maioria das nossas instituições na última década. Uma pesquisa de fôlego junto a 16 universidades apontadas como referências no tema da inovação e empreendedorismo (sete do Brasil e nove do exterior) traz uma contribuição valiosa para o enfrentamento deste desafio. “A gestão da inovação em universidades: evolução, modelos e propostas para instituições brasileiras” é o título da tese de doutorado de Patrícia Tavares Magalhães de Toledo, orientada pela professora Maria Beatriz Machado Bonacelli, no âmbito do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências.
“O grande mérito da tese está na análise conceitual e também analítica, com uma mostra importante de universidades brasileiras e do exterior. São dados primários indisponíveis ao público, que não encontraremos fazendo buscas na rede ou nos portais destas instituições. As informações existem apenas na tese”, ressalta a orientadora Maria Beatriz Bonacelli. “Além das entrevistas in loco, foi distribuído um questionário muito bem recebido e com um percentual significativo de respostas. A aluna esmiuçou tema por tema, transformando tudo em propostas com um olhar para o contexto brasileiro, de modo que nossas universidades se inspirem nas experiências internacionais”.
“Iniciei esta pesquisa ainda na Unicamp, quando várias perguntas me incomodavam em relação à participação das universidades na inovação: por que estas não eram procuradas pelas empresas como fonte de inovação; por que as empresas investem tão pouco em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, e por que este pouco é investido mais em equipamentos e não em projetos para criar produtos inovadores; como as universidades poderiam se organizar para obter uma estrutura de gestão e inovação mais efetiva, com os resultados de suas pesquisas gerando novas tecnologias para o mercado”, disse Patrícia.
Segundo a autora da tese, nas últimas três décadas, universidades de todo o mundo têm se estruturado para atuar de forma mais abrangente nos sistemas nacionais de inovação (SNI), ao passo que as brasileiras só passaram a lidar mais intensamente com este desafio nos últimos 10 anos. “Nossas universidades mais ativas em inovação e empreendedorismo buscam mecanismos que permitam maior aproximação com a sociedade, sem comprometer a essência do trabalho acadêmico. Nesse contexto, o objetivo da tese é propor diretrizes para a melhoria de modelos de gestão da inovação, e contribuir para a modernização de políticas e de marcos legais de estímulo à CT&I”.
A pesquisadora lembra que o país não possuía um marco legal que regulamentasse a parceria universidade-empresa para inovação até a promulgação da Lei de Inovação em 2004, que inclui a determinação de que todas as universidades públicas tenham um NIT. “A Inova Unicamp foi criada antes, em 2003, com um modelo até mais abrangente do que a lei viria a pedir. UFMG e UFRGS também já possuíam organizações semelhantes, mas a maioria das universidades teve que se mobilizar para criar seus NIT.”
“Estudei experiências virtuosas em gestão da inovação de 16 universidades de cinco países: Estados Unidos (Califórnia, Utah, Pensilvânia, Michigan, MIT e Georgia Tech), Reino Unido (Cambridge), Israel (Hebraica), Chile (PUC) e Brasil (Unicamp, USP, Unesp, UFMG, UFRJ, UFSCar e UFRGS)”, informou.
Docente empreendedor
A pesquisadora finalizou a tese antes da sanção do Marco Legal da CT&I em janeiro, e lamenta que vários dispositivos em discussão no projeto de lei tenham sido vetados. “Um ponto que coloquei como fundamental, não promulgado, diz respeito a oferecer condições favoráveis para que o docente possa licenciar uma tecnologia que inventou e criar uma spin-off, sem prejudicar a carreira acadêmica. Ele pode atuar como líder científico, contribuindo diretamente para a evolução do empreendimento nos primeiros anos de vida, sem ter que se afastar da academia. É um tipo de relação comum no exterior”.
A este respeito, a professora Maria Beatriz Bonacelli comenta que as atividades do NIT demandam um perfil de profissional que não se encontra pronto, precisando ser formado. “Este profissional precisa conhecer como funciona a academia e todo o aparato legal e regulatório (patenteamento, incubação de empresa, elaboração de contratos), além de compreender a dinâmica e as necessidades das empresas, tornando uma tecnologia mais atrativa para que elas invistam. A alta rotatividade de pessoas nos NIT gera descontinuidade neste trabalho de formação”.
Patrícia Toledo identificou em sua pesquisa três modelos de gestão da inovação: centralizado, em que a universidade aglutina em seu NIT a gestão da inovação, da propriedade intelectual e da interação com empresas, como é o caso da Unicamp; descentralizado, quando já existem vários órgãos cuidando do sistema de inovação, sendo bom exemplo o da Universidade da Califórnia, que mantém um escritório central de menor poder decisório e escritórios autônomos em seus dez campi; e o modelo híbrido, em que há concentração gerencial no NIT e gestão compartilhada de alguma atividade de estímulo à inovação de forma coordenada com outros órgãos da universidade, como ocorre na UFRGS.
Fonte: Confap
Foto: Divulgação