Pesquisa desenvolve software para alfabetização de crianças autistas, no Amazonas


22/02/2013 – Atrelando métodos de aprendizagem tracidionais a técnicas utilizadas com crianças autistas, pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) desenvolveram um software para tablets e notebooks que auxilia no processo de alfabetização infantil.

O sitema intitulado ‘Lina Educa’, inédito no Brasil, foi desenvolvido ao longo do projeto de pesquisa ‘Software educativo para crianças autistas – Lina Educa’.

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As pesquisas iniciaram-se em 2007, no desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da designer gráfico Aline Neves. Os estudos ficaram parados e reiniciaram no ano passado com aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) por meio do Programa Estadual de Atenção à Pessoa Com Deficiência – Viver Melhor/ Edital de Apoio à Pesquisa para o Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva (Viver Melhor/Pró-Assistir).

De acordo com a coordenadora do projeto, a doutora em Engenharia de Produção e professora da Ufam, Claudete Barbosa Ruschival, a ideia é apoiar o ensino da alfabetização utilizando os métodos Teach e de Relações de Comportamento para organizar uma agenda diária para a criança e auxiliá-la na realização das atividades.

“Se não determinarmos uma rotina diária para a criança autista, ela não consegue se organizar. O software trabalha isso, a percepção, a generalização e organização das atividades educacionais e da rotina em família, como ir à casa de familiares, escovar os dentes, tomar banho e ir ao terapeuta”, disse a pesquisadora.

Lina Educa

Ruschival esclareceu que para organizar a vida da criança em uma agenda diária e fazê-la sentir-se participante de todo o processo, serão trabalhadas imagens, com ilustrações ou fotos.

A criança autista utiliza o software ‘guiada’ pela tartaruga Lina, personagem desenvolvida pelos pesquisadores que participam do projeto. “Trabalhamos com apoio do Instituto Autismo no Amazonas, que tem nos dado um feed-back de todas as ações. Tínhamos um conceito e uma noção de algumas atividades, mas que tiveram de ser completamente alteradas para que beneficiasse verdadeiramente as crianças com autismo”, explicou a pesquisadora.

No software, a criança pode visualizar sua agenda de atividades diária e da semana, além de também permitir o acompanhamento das atividades por terapeutas, profissionais de educação especial e por familiares.

A pesquisadora disse que todas as atividades serão compostas por testes e que  após a criança desenvolver as atividades ela terá de fazer um teste para avançar para outro nível.

“A criança verificou na agenda que é a hora de escovar os dentes. O software mostra a ela, por meio de fotos – inseridas pela família – ou por ilustrações, como ela deve desenvolver essa atividade. Depois disso, ela fará um teste no softaware e passará para a próxima atividade da rotina, que pode ser ir ao terapeuta ou ir à casa da avó”, explicou.

Relatórios mensais e testes

Segundo a cientista, o desenvolvimento do software foi baseado nos critérios de usuabilidade, interação e limitações de crianças autistas. Assim, o programa  emite um relatório mensal de todas as atividades desenvolvidas pela criança que servirá para os pais, educadores e para o acompanhamento terapêutico.

Os testes com o sistema começarão no mês de abril, com a participação de 12 crianças autistas atendidas pelo Instituto Autismo no Amazonas. A aplicação será feita sob supervisão de seis adultos e pelo Grupo Gradual de São Paulo.

Ruschival afirmou que serão realizados dois testes: um de aprendizado, para verificar se o software auxilia no processo de alfabetização, e um de usuabilidade, que testará a interação, a dinâmica e o uso do sistema.

“Serão montados três postos de testes no Instituto Autismo no Amazonas e em São Paulo três pedagogas, que trabalham com pesquisas voltadas para crianças autistas com o método de relações de comportamento, também aplicarão os testes em parceira conosco”, contou a pesquisadora.

Os testes de usabilidade serão monitorados pelo especialista em Design, Propaganda e Marketing da Ufam, Gean Flávio Lima, com apoio da mestranda em Engenharia da Produção da Ufam, Patrícia Braga.

Os testes serão realizados durante cinco meses – três meses ininterruptos, pausa para ajustes e mais dois meses – para que os pesquisadores tenham um feedback dos resultados do projeto.

O objetivo dos pesquisadores é disponibilizar o software gratuitamente no portal institucional da Ufam e da FAPEAM para download, além de disponibilizar para pais, terapeutas e institutos que trabalham com projetos voltados a crianças autistas.

Entenda o autismo

A alfabetização é a fase mais importante da vida escolar de uma pessoa e é determinante para a igualdade de condições dentro da sociedade. Esse processo se torna muito mais complexo para crianças com síndromes, como no caso dos autistas.

Nesse contexto, é fundamental considerar as dificuldades de comunicação de crianças autistas com o mundo externo e adequar os métodos de alfabetização as suas limitações.

O autismo é uma alteração que afeta a capacidade de comunicação do indivíduo, de socialização e de comportamento. Essa desordem faz parte de um grupo de síndromes chamado Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), também conhecido como Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID).

Algumas crianças, apesar de autistas, apresentam inteligência e fala intactas, outras apresentam sérios problemas no desenvolvimento da linguagem. Algumas parecem fechadas e distantes, outras presas a rígidos e restritos padrões de comportamento.

Os diversos modos de manifestação do autismo também são designados de espectro autista, indicando uma gama de possibilidades dos sintomas do autismo. Atualmente, já há a possibilidade de detectar a síndrome antes dos dois anos de idade – em muitos casos.

Métodos utilizados: Relações de Comportamento e Tech

Utilizado pela Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos, pelo professor Júlio Delarose, o método de relações de comportamento consiste em um grupo fechado de palavras e imagens, no qual a criança aprende por meio das relações entre as palavras e imagens.

“Na alfabetização, nós aprendemos as vogais e as consoantes, por exemplo. No caso das crianças autistas, elas aprendem por combinações e relações. Com o método é possível utilizar essas palavras agrupadas para fazer recombinações e formar outras palavras”, esclareu Ruschival.

O método Teach foi criado em 1966 nos Estados Unidos, na Universidade da Carolina do Norte, pelo psiquiatra Dr. Eric Shopler e seus auxiliares. Ele foi elaborado com o propósito de reabilitar e alfabetizar autistas e crianças com prejuízos relacionados à comunicação.

O método tem como base a terapia comportamental e psicolinguística com  objetivo de proporcionar rotina e organização do cotidiano de crianças autistas.
A programação das atividades do dia é feita visualmente. Pelo método, as crianças autistas estabelecem uma rotina diária, dentro e fora da sala de aula, organizando, assim, questões internas e externas, as quais favorecem melhor desempenho em habilidades escolares.

Sobre o Programa Viver Melhor/Pró-Assistir

A iniciativa apoia projetos de pesquisa que visem o desenvolvimento de produto ou protótipo de produto de tecnologia assistiva para promoção da funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, objetivando a sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.

Camila Carvalho – Agência FAPEAM

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