Pesquisa revela que o desmatamento reduz tamanho de peixes na Amazônia
Aquecimento da água pode ser o responsável, ao menos em parte, pela redução de tamanho das espécies
Entre os diversos danos causados pelo desmatamento na Amazônia em virtude da expansão agrícola, uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que o desmatamento reduz o tamanho dos peixes na Amazônia.
Para realizar o estudo “Efeitos da conversão de florestas em áreas agrícolas sobre assembleias de peixes das cabeceiras do Rio Xingu”, o ecólogo Paulo Ricardo Ilha Jiquiriçá coletou 4 mil peixes de 36 espécies diferentes na região de Canarana, no Mato Grosso, cidade conhecida como portal do Xingu.
Ele contou que seus estudos tinham como objetivo inicial avaliar os efeitos do desmatamento e da construção de barragens sobre a fauna de peixes (assembleias). “Contudo, no decorrer da pesquisa percebemos que o tamanho corporal dos peixes nos riachos em áreas agrícolas era significativamente menor em comparação com os riachos em áreas de florestas”, disse.
Quatro das seis espécies mais abundantes nos riachos estudados diminuíram de tamanho (em massa), entre 44% e 57%, nas áreas agrícolas. “É provável que o aquecimento da água seja responsável, ao menos em parte, pela redução de tamanho dessas espécies”, informou o pesquisador.
Medições feitas em campo mostraram que nos riachos de florestas e ainda não alterados em suas características as temperaturas da água eram, em média, entre 24 graus Celsius (°C) e 26°C.
“Já nos riachos em áreas agrícolas, nas horas mais quentes do dia, as temperaturas atingiram até 35°C”, disse.
Para testar essa hipótese, Paulo realizou um experimento em laboratório no Departamento de Fisiologia do IB em colaboração com o professor Carlos Arturo Navas Ianini.

A pesquisa não investigou os mecanismos fisiológicos que levam à diminuição do tamanho dos peixes, mas constatou que a temperatura da água é um fator preponderante.
Lá, foram criados peixes (da mesma espécie de rivulídeo citada) em temperaturas semelhantes às dos riachos agrícolas e de florestas. “Os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos agrícolas perderam massa, diminuindo de tamanho, enquanto os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos de florestas cresceram”.
A pesquisa não investigou os mecanismos fisiológicos que levam à diminuição do tamanho dos peixes, mas constatou que a temperatura da água é um fator preponderante. Paulo ressaltou que este pode ser o primeiro estudo a fazer a relação direta entre a redução de tamanho dos peixes e o aquecimento provocado pela conversão de florestas em áreas agrícolas. “É possível que isto esteja acontecendo ao longo de todo o arco do desmatamento amazônico e que venha a causar perdas de biodiversidade”, disse.
Sob orientação do professor Luis Cesar Schiesari, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), e com aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o cientista deu início às suas pesquisas no ano de 2011.
Desmatamento reduz tamanho de peixes na Amazônia
Diversas alterações na fauna de peixes foram observadas nos riachos em áreas agrícolas e relacionadas a alterações ambientais. O pesquisador citou como exemplo uma espécie de rivulídeo, parente dos “killifishes” de aquário, que mede menos de quatro centímetros e aumentou em abundância nos riachos agrícolas.
“Isso ocorreu devido a alterações das características naturais dos riachos. Após o desmatamento, as margens desses córregos são invadidas por gramíneas (Brachiarias) que reduzem a profundidade e criam um ambiente onde os predadores dos rivulídeos não conseguem alcançá-los, o que permite sua proliferação”, explicou o pesquisador.
Em contrapartida, espécies que eram comuns nos riachos desapareceram das represas. “Ao menos três espécies de pequenas ‘piabas’ que eram comuns em trechos de água corrente não foram encontradas em trechos represados”, disse.
No Amazonas, estudos com aporte financeiro do governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), fortalecem a piscicultura e utilizam os resíduos dos peixes para produção de biofertilizantes. Para saber mais, leia as matérias “Empresa reaproveita resíduos de peixes para produção de biofertilizante, biogás e ração”, “Projetos de pesquisa com apoio da Fapeam fortalecem a aquicultura no Amazonas” e “Pesquisador transforma microrganismo encontrado na água em ração animal para peixes no Amazonas”.
Fonte: Antônio Carlos Quinto / Agência USP
Matéria publicada no Portal A Crítica