Reprodução de peixe ornamental em laboratório poderá beneficiar piabeiros
27/02/2012 – Uma nova tecnologia de reprodução em cativeiro do cardinal Paracheirodon axelrodi, peixe ornamental amazônico de cores brilhantes e alto valor comercial no País, poderá auxiliar na reprodução e no desenvolvimento da espécie.
A pesquisa, pioneira na região, consiste em dominar a reprodução, em laboratório, da espécie encontrada somente nas águas escuras da bacia do Rio Negro. A técnica vai, segundo o estudante do curso de engenharia de pesca da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Fabrício Sousa, auxiliar os pescadores que vivem da atividade pesqueira de peixes ornamentais.
Siga a FAPEAM no Twitter e acompanhe também no Facebook
Segundo Sousa, a reprodução do cardinal em cativeiro é difícil, mas viável e pode contribuir tanto para o pescador quanto para a preservação da espécie na natureza. ”Minha intenção é levar essa tecnologia para o pescador, que passa horas e horas dentro de uma canoa, pegando sol e chuva e correndo riscos. Se ele conseguir dominar essa técnica e aplicar de forma que a reprodução aconteça na casa dele, ele não vai mais precisar se deslocar até o igapó para capturar o peixe da natureza”, explicou Sousa.
Processo
O pesquisador salientou que no Brasil, o principal centro fornecedor de peixes ornamentais é a cidade de Barcelos (localizada a 399 quilômetros a noroeste de Manaus) e o cardinal é a espécie mais importante, pois representa 80% de todo o volume comercializado.
“De todas as espécies de peixe ornamental que saem de Barcelos 80% é de cardinal. Das mais de 100 espécies de peixes ornamentais exportadas ele é o principal. Dados apontam que anualmente sai do município uma faixa de 20 milhões de indivíduos”, garantiu.
A ocorrência dos peixes ornamentais ocorre principalmente nos igapós e em igarapés da floresta, áreas total ou parcialmente inundadas. A melhor época para a captura é durante a vazante e seca dos rios. Segundo o pesquisador, a tecnologia irá auxiliar na produção, principalmente nas épocas em que a pesca é escassa.
“Eu já conversei com vários pescadores e todos me confirmaram que se soubessem de alguma técnica de reprodução do peixe, eles deixariam de se deslocar para lugares distantes, pois a espécie está cada vez mais escassa e os aquaristas só querem o peixe, se ele for ‘jumbo’, ou seja, grande”, alertou.
Nova técnica
O trabalho, segundo o pesquisador é feito com hormônio. “Vamos introduzir hormônios na ração e na água e também teremos um grupo de controle, ou seja, esse grupo não terá nenhum tipo de hormônio introduzido na sua dieta. Depois disso vamos ver em quanto tempo ele vai se reproduzir”, explicou.
Souza ainda sinalizou que a ideia de fazer a pesquisa no ambiente de laboratório se deu devido ao alto risco de ir a campo. “O ideal seria aproveitarmos as condições ambientais do próprio local, mas isso ainda não será possível. Creio que realizar a reprodução no habitat seria melhor, mas iremos verificar qual das metodologias será melhor aplicada, se o do grupo que recebeu hormônio da água ou o grupo que recebeu hormônio na ração. Se a técnica for bem-sucedida, iremos aplicar em campo”, declarou.
A pesquisa intitulada ‘Reprodução do cardinal Paracheirodon axelrodi em ambiente de laboratório’, é embasada nos trabalhos desenvolvidos pelo estudante durante a fase de iniciação científica quando foi bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Junior (Pibic Jr), por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Atualmente, o estudante desenvolve o trabalho para concluir o curso de graduação na Ufam.
Rosilene Corrêa – Agência FAPEAM